segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sou

Eu sou as frases perdidas em minha cabeça,
O exagero estrangulado na mente avessa.
Suas lembranças chovidas na janela,
Em pingos de pingos do choro dela.

Eu sou a chuva em meio ao sol do dia,
E o contrário esforçado e existido.
As praças cheias...Uma rua vazia.
Sou alegre e triste... Vulcão escondido.

Eu sou o tempo nada mais que parado,
Nada mais que corrido,
E de tanto,um tanto quanto suado.
Eu sou o abraço claro e morrido.

A nuvem sonolenta de um domingo,
Eu sou o passo morno e madrugado,
O grito do espectro calado.
Sou as cores sorteadas de um flamingo.

Eu sou meu e sou teu,
Apenas, e nem por isso deixo de ser de outras,
De tantas,de nenhuma,de poucas.
Das coisas, das quintas, das quartas, da vida, do que morreu.

Eu sou qualquer viajante perdido,
Qualquer embriagado romântico,
Qualquer desvairado sentido.
O qualquer dos quaisquer cânticos.

Eu sou eterno e sou passageiro,
O viajante latino, o estrangeiro.
Pacato e renascido por, quem sabe, deus,
Nos beijos teus, nos olhos teus, em poemas meus.

Sou o fogo queimado, dilacerado em várias peles,
O erro mais que errado de um acerto contínuo,
A dissonância estremecida de um hino.
Proferido pela boca do povo, pelos ventos que quiseres.

Eu sou todas as cores em preto e branco,
O bocejo dos olhos esburacados em cafeína,
A premeditação contrária de uma sina .
A mancha marcante e acesa de todo pranto.

Sou profeta, sou herege!
Sou o pintor do mundo bege.
Sou ator e protagonistas de todas heresias,
Sou o amante destoante , o acaso de uma poesia.
Poesia vivida...
Aspirante e intermitente como azia.
Poesia de todas e de uma vida!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Preterida

Vê-la em meus braços anoitecidos a faz fugaz
Seu toque ausente me cobrindo, nu, nos faz ali
Apenas...no veneno do vento, em sensação que se faz
Partir.

Seus lábios dormidos dizem “já vou”,
A felicidade ,em mim... Esquartejado, destoou
Sobre a verdade encravada em meus olhos,
Enraizados na terra de seus beijos, de seus afagos ilusórios.

Mas ao toque da sua pele gelada, percebi
Que não era chama, nem concreto,
Não era minha nem de perto...

E muito menos o mais que haveria por vir.
Nua, era tão acautelada quanto uma vingança
Pra mim...Asfixiado, amargando ao amar minha doce lembrança.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Morfina

Como rosas em dias de inverno
Eu não saberia absorver tudo que reflete em mim...
Se os raios de meus olhos são distantes ao azul eterno
Desse céu em meu imo que me consome, deflagra obstante assim.

Mordo muito meus lábios moídos, morfina!...Mas não os sinto sangrar
Dói dor desafinada, distorcida e derramada... Doente de ti,
Mas não em minha carne...mais a dentro, corrompe e toma meu ar
Em fulgor forte, como farol em noite de ir e vir.

Amor, minha morfina... em meu âmago moral,
Feminina, fulminante, fugaz e linda.
Feroz, Feitosa, afastada do mal.
Meu amanhã no hoje ainda...

Insano pelo efeito tão voraz e triste aqui,
Na profundeza romântica de minha amada guardada...
Como ludibrie lúdica luz, esgotada em si,
Em meus olhos fechados, em minha respiração calada...
Em minha alma roubada.

Serão tão mortas as estrelas do céu?
Pois bem, esse brilho ainda não morreu,
Por que toda essa amplidão me deixa tão só e distante?
Saber escrever sobre amor já não é mais o bastante.

Não traz minha querida,
Que abracei, vi largada, levada e elevada sobre luz tal. Minha menina.
Se estou leve, lento, longe e livre...Leve-me, morfina!
Que, assim, essa dor se esvai, ainda que aguerrida...

Em meu peito frio,
Nas lágrimas dela,nos olhos meus... Que alimentam o rio
De toda minha cela, de toda e toda sina.
Em nossa pele, em toda áurea...Morfina.

Edge M.M

domingo, 18 de outubro de 2009

Everlasting

I´d like to burn in the rain,
Over and over again…
When i just felt a drop,
Growing me in your crop…

And everything has seemed a role,
Rotting,
Weeping in my hole,
Hot and so cold…

I wish you were everlasting,
In my memories of spring…
In my memories fading in the wind.
But time was passing…

To bleed, forevermore, in my sorrow…
Although I keep me in mind
To not become blind.
So ,in the end,i think it´s my row..

I´d say, I’d see
I´ll be dragging to a way...

But... I won´t let this build up inside of me.



Edge;)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Desmembrando-se




Um Homem, cansado, trabalhou. Acabando de largar o terno, anda por andar. A rua encontra-se oculta em seu peito,como uma floresta vazia, asfaltada, violada pelo sol, que castiga. Se sente só, por isso, continua a andar para algum lugar, de onde possa ver o mar. As esquinas e praças se bifurcam de modo a parecer tudo estagnado e suspeito.Olhos aparecem de onde não se vê,sempre. Não seria a culpa? Não. Não pode.A falta,talvez. A cidade, por onde o homem anda, é uma estranha conhecida, percorrida por carros velozes e remotos, por hora vagarosa. À vista, velhinhas de existência compram pães dormidos,enquanto todos continuam a trabalhar.E a rua, um tanto quanto vazia,cochila na ausência da passagem.Era muito sol, para apenas um homem,em meio a indiferença, suar.

O céu parece-lhe tradutor de toda a nostalgia e agonia...Tão pesado...Para um velho o tempo ainda passa, e como... Sempre, toda hora,um ódio, horror.Ele acende um cigarro, e por ai continua, estrada e buracos, a pé. Chega em meio as árvores da cidade,em concreto,em terra,em mato,em aço. Os passos já são mais escutados, e o vento canta mais suave a sua virada. Apenas um comum dia da semana, como uma segunda, terça, daria na mesma...

Em sua cabeça passam fragmentos da vida, teria ele uma expressão de dor, alegria, vontade? Ele nunca se viu no espelho, pois na cidade não havia, não podia, talvez tenha já, algum dia, se visto mal em algum reflexo. Nunca saíra da cidade, pois era uma ilha. Não pousavam aviões, muito menos passavam navios. Para nadar doía e o mar ficava longe do centro, a água era fria,por onde,também,nadavam tubarões caçadores da comida ao ermo da fome,perdida sob a vida salobra em idas e idas.

A cidade não era grande, também, nem tão pequena. Vivia isolada, não se sabe por quem. Muito menos o homem sabia. Ele só andava, pensando. Sentia-se como tivesse nascido adulto, angustiado, infeliz, esquecera da família, queria voar. O tempo era, é, será sempre um sopro. Moço velho, velho moço... Sentia-se saudoso, mais do que demais.

Em certo instante, num espreguiço e desvio de parâmetro, para lhe na frente uma mulher, que o olha, sem mais, o olha. Sem expressão, olhos claros, acinzentados de oceano falho, leigos, meigos, de longe, de menina, de mulher.Ele para de andar, inconscientiaza-se por instante, suas pernas não se entendem, sustentam-se no calafrio. Ela sorri,resplandescente em seu vestido, percebendo o vento a despi-la, seu sorriso se esfria assoprando seu aroma .Com isso, vira-se, e anda, de tal modo que faz o rapaz segui-la. Homem fraco, hipnotizado por sua guia, curvas e curvas, para onde não se sabe. Assim, ele espera chegar a algum lugar,ou,até mesmo,não.

A moça morena faz seus quadris requebrarem, de modo a não passar a impressão de que tal fato se dava pela irregularidade dos paralelepípedos tropeçados. Sensual, apenas natural. Pela cabeça do homem não passavam muitas coisas, a tristeza estava guardada, por instante, esquecida. Ele a seguia. Nunca vira um branco tão branco quanto o que essa estava a vestir. O vento segurava-a pelos cabelos em noite, a modo a querer beijá-la e amá-la, harmonia sensual com a natureza. O tempo embrandece, vento domado com o passo,em compasso.

Viraram em uma esquina, um beco, nunca por ele visto, tão longo, estreito. Ela parou, descalçou suas sandálias, acariciou os próprios pés macios... E continuou a andar.Não parecia se incomodar com o estranho que a seguia. Suas nádegas eram fortes, sua áurea leve. Por onde passava, o ar se refrescava. O homem já se sentia muito atraído,já se sentia perdido,erguido e absorvido à chama...Quando na virada do beco,na passada de um gato, num reflexo lampejo de sol,na intermitência veloz de um estouro como um tiro, a mulher sumiu.

...

O rapaz se viu perdido, em um local onde mal conhecia,o coração parou.Miragem!Miragem?Pensou em de vez parar...Voltou e de novo ficou. Andou mais um pouco, tornou a procurá-la, sentia seu cheiro doce, de concupiscência desejada, mas só via o mar...Que não era visto por seus olhos desde a época que era adolescente. Parou para olhá-lo, saudosista por segundos, apenas por segundos. A mulher não saia de sua cabeça. Por lá,no sopro do seu estar...Não via, não havia sinal de humanidade. Continuou a andar pela orla. O vento não decidia direções, por vezes trazia, por vezes levava o cheiro da rapariga tão formosa. Parecia ter a carne cozinhada, era o aroma da cidade em seu momento,em seu cerne carcomido.

Estava a escurecer...No céu...Em seu âmago desiludido... Quando avistou uma pedra, resolvendo,então, escalá-la. Com muito esforço, força, jeito, sem jeito,não importa,chegou lá, parou para suspirar, para deitar e novamente fumar, quanta fumaça. Que vista. O sol sangrava sobre o mar, amando sua dor, seu complexo de Narciso. Há anos, o homem só via prédios. Naquele exato momento, de frente para o mar,inerte, tornava-se um vulnerável anônimo, não que na cidade não o fosse, mas ali se encontrava selvagem ao ar. E por ali, pensou mais no tempo...Miragem? Nem se lembrava do cheiro do seu ultimo amor, muito menos das vias que conhecera,dos olhos embrandecidos ao acaso terno do tempo. Apenas se perdia em trabalho. Papéis voados, como cinzas de seu cigarro, o tempo carregado pelo vento. Não conhecia o mundo. Seu coração, uma ilha.

Imaginou-se moço, com todo o seu osso a aparecer, querendo a pele rasgar... Levantou (são as sustâncias de banha) e olhou ,mas quando olhou,por entre a fumaça de seu fumo... A viu. Moça, na junta, fenda, entra as pedras...frágil como louça.Em forma. Avulsa.Sua cara despida,o corpo só e ensopado,a pele linda,cara e carente. Ela o percebeu, por tal fato, ato nítido, chamou-o, com um olhar carnívoro. Com medo da vontade, ele assim mesmo foi, não pode reprimi-la. O vento ali não a tocava.Era suavemente molhada pela água que explodia em socos avassaladores com as pedras. Uma briga pela mulher, pela sensualidade morena. A água contornava o corpo de seu vestido, que colava em seu busto quente, saudável, erguido. À visão, uma suculência em meio aos olhos cheios do vazio. O homem, contudo, se vai em direção a carne, mergulha sua sede nos lábios molhados da menina, se perdendo em uma sopa sob erupção, sem pensar, com vontade, fogo que não se apaga, nem com a água que envolve toda a peça. Toca-lhe entre as pernas, áreas úmidas, por onde escorrega, fonte, por onde, resolve matar toda a sua sede, trilha brava que não se entende, exploração não mais inocente. O vestido se degenera.

Nessa troca, ela desprende todo o seu cheiro, suor, ondas flácidas, plásticas, quentes, voluptuosas,vorazes. Sua língua era doce e a voz tecida em veludo, em gritos meigos, curtos, lúcidos, ilúcidos, pegada forte, amada vulva, ao aconchego de seu útero.E suava como a efemeridade da saliva. Seus pés de nativa, ensaiavam chutes sobre as pernas do momentâneo adolescente, que nunca se vira em tarde tão feroz...Os dedinhos contorciam-se em cãibras e libido,arranhões não mais aflitos.Ele a amou,virou-a e amou mais,apalpando seus seios,não tão forte,a sentir a freqüência das batidas rítmicas, no lado esquerdo,uma bomba, uma chama, um relógio.Era tanta força...e paixão,num quente lago de vontade em sangue...Quando...Quanto...Tanto!!!Meia noite.Sai um grito forte,em corte,de porte,em morte,longe forte,sorte,rachado pela carne da boca úmida dela, agudo ,como uma dor liberta,escrava, encrava.Gozo,suspiro.Ele estava com um mamilo,a quase,mastigar...Quando ela,então, se solta,morde os lábios,suavemente sangra-os... E não se seca do suor,transparece,nua...,mergulha,e vai embora...Para o mar.

O homem não entende, olha e se toca,mais pesado que o céu,escuta a voz morena lhe retroceder, lembra-se do último suspiro da menina, uma cosquinha aos ouvidos, o último!A voz rouca.Arrebentada. Desvairada.Eternizada. "Chamo-me Saudade”. Ele cai a chorar, olhando-se no reflexo da poça de suor e chuva. Sua barba branca, a cabeça grisalha,os pálpebra pesada, a ruga passada, a garrafa de cachaça. E assim, por ali se senta vendo da ilha o mar tão cínico, sem saber também nadar, em prantos, esperando um dia, sua filha Saudade voltar.

Para sua própria ilha.


Edge;)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O choro contra

E prendi o choro,tão forte...
Meu âmago tão longe,em mim,se afogava
Voava só,mergulhando o passado, em corte,
Tão longe,leve e logo, adentro boiava.

No austero incêndio, por fora de mim tão seco,
A razão se embriagava por entre ruelas e becos,
Atrasada ao gole talhante,ao instante que,alagado,perco.
Prendi o choro,tão forte,no acerto do erro .

Foi de se fazer um lago,
Por entre perdidos pântanos profundos,
Desvairados,em silêncio, nos inconscientes segundos.

Que me vi a chorar e chorar...,
Sob meu avarento sem água,
Tão afogado em mágoa dos momentos a ventar.


Edge;)