quinta-feira, 29 de abril de 2010

Na dó de um fim,para ademais

Como um entardecer repentino,avermelhou-se uma atmosfera pesada,vaporosa e quente,como o sangramento de uma tatuagem invisível,ao sol.De repente,veio o escuro,em forma,meio nítida,de dizer atraso com gosto de um verão sem satélite.O céu caiu,algumas vezes,enquanto que as peles adoravam-se , sempre variando do quente ao frio , em segundos entrelaçados nas horas tão curtas da memória.O amor mais intenso , a verdade mais complacente , a força do copo mais selvagem.Arranhões minúsculos e mordidas escapas , no abraço,no compaço.

Viravam-se e se montavam , engolindo a dor em sussurros explosivos.Foi-se tudo como um tempo de buscas,devaneado.Gritos tão soltos e perdidos dela.Olhos brancos,cabelos negros de suor,que escorria no sereno invisível das almas.O cansaço da arte corporal era esculpida ,no hábito de flagrar o momento.Ela apoiva suas panturrilhas em seus ombros,as mãos se prendendo no suporte da pauta de ação,base.De resto,muita força.

Qual a melhor maneira de dizer tudo,com todo choro sincero de tristeza,prazer e felicidade?

A voz secou em beijos úmidos, lábios nus,pensamentos nus ,paixão nua perante a lua.Não havia palavras nas contrações musculosas , nos gritos afobados,ofegantes e afogados.Carícias pervertidas entre as pernas,descendo docemente ,de maneira não tão breve, aos pés carentes e gelados .Perpetuou-se o vapor dos chupões no pescoço ,o calor da vagina como confiança e ternura ,aconchegadas,acolhedoras à tempestade que tocava,como poeta , aquelas noites.Depois,amor de ré.

Esperneavam-se,como peixes afogados em uma lagoa sem fundo,sem oxigênio,com alimentos escondidos nas espinhas alheias.Caça e hausto voraz ,irracionalidade iminente e inquieta , que rasgou-se por entre a cegueira.Mar negro,em dó.Não buscaram conhecer o além daquilo,eram como índios reclusos,na solidão da mesma selva.

Lá,as palavras não saíram, os olhos fatigados sempre fechados,embora intensos durantes anos,se confortavam como amantes ,já estacados na felicidade comum...Ignorantes e viajantes...Pois ,por todo um sempre já cansativo ,fugiam do erro da palavra,do conceito infeliz,coagido no leito do imaginário.

Fosse tudo imaginário,enquanto paixão mecânica.

A menina se foi.

Ele, no abrigo breu de si , suando por dentro da alvorada quente de seu deserto melódico,jamais expôs o alarde da emoção mais pura.E passou sempre a desejar ,ensandecidamente surdo , uma canção bela para chorar algo mais verdadeiro.Nomeou-se,à brasas em ferro contra a própria pele, de exagerado , gargalhando,como a ignorância a qualquer nada,o desespero da falta.Boêmio.Infeliz.

Assim,perdeu-se ao mundo,pelo mundo.Como um sábio cansado de um vão ,surgido pelas ruas desertas do Alabana ,esteve largado e recolhido,nomeando-se,nomeado Blues.Pelo inóspito salão largado às estrelas ,na quadra da mangueira ,namorando Villa Isabel,chamou-se,foi chamado de Samba.Solene.Quando não bobo e espalhafatoso,Rock n´roll.Nas diversas identidades esteve invisível na voz de muitos românticos,despercebido e saudoso,nunca se escutando.Pois, ele vinha de dentro de outros perdidos,mas sempre perdido no dentro de si.Era interpretação,idéia,um talvez guardo em caixas.Ele ,naquele tempo de floresta e índios,não conseguiu chorar e esclarecer que a gota era de amor,não conseguiu concretizar-se.Que fosse seca ou inconseqüente falta de demasia ,que fosse ela, o palco e o tempo,a noite.Que fosse pânico,asma insólita.Que fosse gozo de carnaval,ou qualquer desculpa de tom,palpite,sexo.

Que fosse tudo um romance,transformado em música.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Inefável

Surdo com o escândalo
Da beleza
Da perda
Da tristeza
Inefável.

Não há certeza no amor,
Ridículo
É fazer festa na prisão.

E estar sozinho

Para o amar inabalável
Contra a anáfora do sofrer,
Sem ter pra quem dizer...
O quanto é inefável.

Ele calcula ,em razão das palavras,
A liberdade de amor previsível
Enquanto chora quieto, no silêncio,
Urrando eternamente o indizível...

Que engasgar é mais do que ter medo,
Pois não há desculpa de engano,
Não há mais volta pro que foi cedo.

E por entre as veias,
Introduz-se algo,
Para fugir,leve,
Do estável.
Não há lugar,
Se logo vem nova felicidade.
Pois sentir-se livre,
Sem dor,
De puro amor,
Sentir-se inviável,
Para além da saudade...
É de forma crua
Inefável.


Edge

domingo, 4 de abril de 2010

Menino do rio

E fosse noite nas aguas todas claras,transparentes de saudade
E fosse o sonho plausível com qualquer exasperado desejo
Por minha coragem covarde,fantasia do beijo que não vejo.

O que se julga por sombrio
É parte do cheiro que almejo,
Na companhia que me abriga,
Da força limpa de todo rio!

Doce paixão amarga,indubitável!
Selvagem pelo córrego instável.
Lenta, leve ,louca , louvável!

Linda noite, nos seixos caídos das estrelas,
Se eu quisesse todo abraço disso,com alguma melodia,
Deveria ,com empenho, fazer coisas verdadeiras.

Nesse rio,em que se extrai qualquer água de fora
Fazendo da lágrima felicidade,um pulo cego na cachoeira
Um abismo infinito de prazer,pela libido que aflora...
Sou caçador de contos,viajante romântico,artista da poeira.

E o rio que umidesse o tempo,fugaz,sem divisão
Grita sua selva em mim,com a doçura do amor.
Com a paz profunda da mais leve respiração.
Com sons e mordidas de lobos , vivas na dor!

Menino lobo,eu ,nu e só,na madrugada dessa correnteza
Sem certeza,sem certeza,sem certeza.

E fosse dia na vida dela,tão carente por novo fim.
E fosse o sonho adaptável com toda alucinação
Da minha fantasia,da lanterna perdida no jardim.

Leque de idéias tão doces e vozes macias,
Sentindo a chama mais branda da relva,
Definindo o barulho da garoa e suas vias.

Lenta prosa que escorre nos olhos brancos dos mundos
Se eu quisesse toda paixão disso,com alguma sintonia,
De novo ,Mergulharia-me,pelas águas de sonhos profundos.

Como um peixe cinza entre as pedras.

E o faço só,sem pisar no que confio
Pescador do mundo bucólico,fio em todo o vão
Do pranto atordoado e frio da paixão
Pela pureza de um menino vivo em seu rio.

Rio , pauta de canção!